De modo geral, as pessoas acreditam que basta mudar o ano, que as questões e sofrimentos passam. Nesse momento, as pessoas preferem não se deparar com os sentimentos e parece estar tudo em festa. No entanto, o que eu percebo com a experiência, é que na medida que o tempo passa, obviamente as questões não se resolvem, muito pelo contrário, elas complicam, o coração fica apertado, a angústia toma conta.
E quando se tinha a promessa de um novo ano e de uma nova vida, de mais alegria e felicidade o que se vê são as repetições do ano anterior e do anterior. São as repetições de uma vida inteira.
É o natal que precisa conviver com a família e os sentimentos infantis vêm a tona gerando conflitos e tristeza, o relacionamento que não melhorou com as promessas de ano novo e as metas criadas que não saíram do papel...
Com isso, será um ano novo ou será um tudo de novo, outra vez ?
Freud em 1914, escreve o artigo "Repetir, Recordar e Elaborar", que constitui a base do pensamento psicanalítico. Na análise, o sujeito que sofre irá repetir inconscientemente seus sentimentos, pensamentos, comportamentos e fantasias infantis que serão transferidos para a figura do analista.
À medida que a análise avança, tudo isso inconscientemente que foi "re-vivido" com a figura do analista, poderá ser elaborado, permitindo a construção de novos significados.
Uma analogia que gosto de pensar é em um óculos embaçado, que não permite que enxerguemos com clareza, quando limpamos o óculos, parece até que mudamos de lente, tudo passa a ser visto com mais transparência e nitidez, e com isso torna-se mais fácil em fazer escolhas, seguir o próprio desejo, perceber as repetições nas relações, etc.. Na medida em que o caminho fica mais claro com as elaborações dessas repetições.
Portanto, é na relação com o analista, que são encenadas as repetições de emoções inconscientes , promovendo um ponto de encontro permanente entre o passado e o presente daquele que sofre, com suas semelhanças e diferenças, tornando possível um ano novo.
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